"A condição não se cura mas o medo da condição é curável."
Então sentou-se para descansar e em breve fazia de conta...Faz de conta que fiava com fios de ouro as sensações, faz de conta que a infância era hoje e prateada de brinquedos, faz de conta que uma veia não se abrira e faz de conta que dela não estava em silêncio alvíssimo escorrendo sangue escarlate, e que ela não estivesse pálida de morte mas isso fazia de conta que estava mesmo de verdade, precisava no meio do faz de conta falar a verdade de predra opaca para que contrastasse com o faz de conta verde-cinitilante, faz de conta que amava e era amada, faz de conta que não precisava morrer de saudade, faz de conta que ela não ficava de braços caídos de perplexidade quando os fios de ouro que fiava se embaraçavam e ela não sabia desfazer o fino fio frio, faz de conta que ela era sábia bastante para desfazer os nós de corda de marinheiro que lhe atavam os pulsos, faz de conta que tudo o que ela tinha não era faz de conta, faz de conta que se descontraía o peito e uma luz douradíssima e leve a guiava por uma floresta de açudes mudos e de tranqüilas mortalidades, faz de conta que ela não era lunar, faz de conta que ela não estava chorando por dentro-pois agora mansamente, embora de olhos secos, o coração estava molhado;mas nada dizível em palavras escritas ou faladas.A noite que não vinha, não vinha, que era impossível. E o seu amor que agora era impossível- que era seco como a febre de quem não transpira, era amor sem ópio nem morfina. E "e eu te amo" era uma farpa que não se podia tirar com uma pinça.
domingo, 21 de outubro de 2007
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