segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Construção
Chico Buarque
Composição: Chico Buarque
Amou daquela vez
Como se fosse a última
Beijou sua mulher
Como se fosse a última
E cada filho seu
Como se fosse o único
E atravessou a rua
Com seu passo tímido
Subiu a construção
Como se fosse máquina
Ergueu no patamar
Quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo
Num desenho mágico
Seus olhos embotados
De cimento e lágrima
Sentou prá descansar
Como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz
Como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou
Como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou
Como se ouvisse música
E tropeçou no céu
Como se fosse um bêbado
E flutuou no ar
Como se fosse um pássaro
E se acabou no chão
Feito um pacote flácido
Agonizou no meio
Do passeio público
Morreu na contramão
Atrapalhando o tráfego...
Amou daquela vez
Como se fosse o último
Beijou sua mulher
Como se fosse a única
E cada filho seu
Como se fosse o pródigo
E atravessou a rua
Com seu passo bêbado
Subiu a construção
Como se fosse sólido
Ergueu no patamar
Quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo
Num desenho lógico
Seus olhos embotados
De cimento e tráfego
Sentou prá descansar
Como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz
Como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou
Como se fosse máquina
Dançou e gargalhou
Como se fosse o próximo
E tropeçou no céu
Como se ouvisse música
E flutuou no ar
Como se fosse sábado
E se acabou no chão
Feito um pacote tímido
Agonizou no meio
Do passeio náufrago
Morreu na contramão
Atrapalhando o público
...Amou daquela vez
Como se fosse máquina
Beijou sua mulher
Como se fosse lógico
Ergueu no patamar
Quatro paredes flácidas
Sentou prá descansar
Como se fosse um pássaro
E flutuou no ar
Como se fosse um príncipe
E se acabou no chão
Feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão
Atrapalhando o sábado...
Por esse pão prá comer
Por esse chão prá dormir
A certidão prá nascer
E a concessão prá sorrir
Por me deixar respirar
Por me deixar existir
Deus lhe pague...
Pela cachaça de graça
Que a gente tem que engolir
Pela fumaça desgraça
Que a gente tem que tossir
Pelo andaimes pingentes
Que a gente tem que cair
Deus lhe pague...
Pela mulher carpideira
Prá nos louvar e cuspir
E pelas moscas bixeiras
A nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira
Que enfim vai nos redimir
Deus lhe pague...

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Teu rosto posto

Sonhei com teu rosto
Sonhei ele ali, posto
ao meu lado, sonho...
Sonho, sonhos...
Ano novo, vida nova
Vida nova, porta aberta
Porta aberta, encostada
Entreaberta a boca calada
Boca à espera
Esperando a palavra
Palavra que traz um beijo
Beijo esperado
Que me cala
Acordei...
Era um sonho...
Mas o gosto ficou guardado
Chega logo, vem mais perto
Deixei entreaberta a porta
À espera de você
Estou meio perdida
Não sei como dizer
Tudo que ensaiei
Aqui tudo tão longe
Você entrou, deu uma espiada e voltou
Quero falar
Minha voz falhou
Como te contar?
Como te encontrar?
No meu olho você lê
Acho que já me entreguei sem querer
Tenho medo, tenho medo
Não quero te perder
Para, pára (eu) , não você vai se perder novamente
Já me perdi, percebi que já é tarde
Quero chegar lá onde o horizonte me leva
Uma montanha lá onde o topo parece tão distante
Pra lá, na montanha parada
Tão difícil acesso
Quero subir, cair e levantar
Chegar ao topo e pensar
Tudo ficou assim tão sério no meu interior
Um relâmpago na escuridão
Você chegou, entrou, espiou e voltou
Se pode acontecer, eu não sei
Pode alguém aparecer e te roubar
Mas agora eu quero que esse sentimento dure a vida inteira
Se você soubesse como é lindo o meu querer
Você não apenas espiaria
Se assim acontecer
Se meu coração disparar
Vem me acalmar

Dois perdidos

Arnaldo Antunes

Composição: Arnaldo Antunes / Dadi

de todas as pessoas que há no mundo
por que justo você?
foi cair na minha frente assim
como um agouro ruim
por que você?
por que você?
entre tantos homens e mulheres
e mulheres homens e homens mulheres
por que você?
será que eu te pedi pra ir embora
você não foi, e agora?
se quando eu te pedi para ficar você ficou.
por que coxas pelos pele seios
cabelos músculos pescoço
por que?
se o mundo é tão imenso e tudo tão distante
todos tão distantes uns dos outros
cada um por si
como é que eu fui cair
de boca aqui?
se tudo fica tão intenso
quando eu penso em você
e eu
vou ter agora e sempre que sofrer
sem nunca poder esquecer
você?
se existem tantos pensamentos possíveis e impossíveis por que só
a sua imagem vem a todo instante me assombrar
assim?
eu quis você sim
mas não assim
eu sei que eu fui a fim, sim,
mas não assim
se o que te impede de sair da minha vida
insiste em te dizer não
e magoar quem te deseja e te quer bem
também não deixa de querer mas nunca vem
pra mim
não quero nada de você
não quero nada de você
só você
de você não quero agora
de você eu quis
você

Futuros Amantes

Chico Buarque

Composição: Chico Buarque

Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar

E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos

Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização

Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Isolado de tudo (o amor)
Por que cantarolando parecia
que a música queria dizer isso (paixão)
Eu tinha que ir atrás depois (Investir!)
Eu tinha que explicar essa cidade submersa
Tinha que criar
Uma história! (Viver o que se está sentindo)
Apareceu a cidade, exatamente antes
de qualquer coisa. (Alguns impedimentos...)
Aí eu coloquei os escafandristas (Ciúmes)
E esse amor adiado (Timidez)
Esse amor que fica pra sempre, né?! (Ilusão)
Essa idéia do amor, essa idéia do amor que existe...
Algo que, pode ser aproveitado mais tarde (Romance)
Se não se desperdiça e passa. O Tempo. Passa-se milênios e aquele amor vai. Ficar até debaixo d'agua? (Dúvidas)
E vai ser usado, por outras pessoas. (o ciclo recomeça, sempre!)
O amor que não foi utilizado, né?!
Porque não foi correspondido, então ele fica ímpar! (Desilusão)
Pairando ali, esperando (Recomeçar...)
Alguém que apanhe e complete a sua função (Pega de surpresa)
De Amor, né?! (Ainda há esperança!)
...


Breve explicar, de como conseguimos ainda ser Românticos!
Você procura o quê?
Você quer o que?
Você anda anda anda
E tudo continua ali
Ali bem a sua frente
E você?
Procura o que?
O verso mais perfeito
Pra quê menina
Pra que???
Você sabe quem é
Só você
E se cansou de tentar
Mostrar ao mundo
Cansada diz
Cansei de procurar o amor
Ele que me encontre...
Cansei de sofrer desnecessariamente
Cansei de brincar com bibêlos
Cansei...
Cansei dessa minha melancolia
Cansei...
Dessa timidez
Cansei...
Desse não
Ou talvez
Cansei...
E o quem sabe então?
Ah...
Deixa menina
Se aquieta
Espera...
O novo ano começou!!!!
E o inferno astral acabou, dizem os astrólogos
Eu queria um punhado
De amor sincero
Quanto custa?
Ah!
Isso é bem caro...
Sabe menina
Isso não tem preço na realidade...
Na janela ela espera
Quem é ela
quem é ela?
Mais Alguém:
Roberta Sá
Composição: Moreno Veloso e Quito Ribeiro

Não sei se é certo pra você
Mas por aqui já deu pra ver
Mesmo espalhados ao redor
Meus passos seguem um rumo só.
E num hotel lá no Japão
Vi o amor vencer o tédio
Por isso a hora é de vibrar
Mais um romance tem remédio
Não deixe idéia de não ou talvez
Que talvez atrapalha
Não deixe idéia de não ou talvez
Que talvez atrapalha.
O amor é um descanso
Quando a gente quer ir lá
Não há perigo no mundo
Que te impeça de chegar.
Caminhando sem receio
Vou brincar no seu jardim
De virada desço o queixo
E rio amarelo.
Agora é hora de vibrar
Mais um romance tem remédio
Vou viajar lá longe tem
O coração de mais alguém.
Não deixe idéia de não ou talvez
Que talvez atrapalha
Não deixe idéia
de não ou talvez
Que talvez atrapalha.

domingo, 9 de dezembro de 2007

Vida após o circus!!!

Eu não quero sair!
Hoje eu vou ficar quieto
Não adianta insistir
Eu não vou pr'o boteco
Eu não quero sair!...
Eu não quero sair!
Eu não!
Hoje eu vou ficar quieto
Não adianta insistir
Eu não vou pr'o boteco...
Hoje eu não teco, não fumo
Não jogo sinuca
Não pego no taco
Tem muita gente maluca
Me apurrinhando
Enchendo o meu saco
Hoje estou de vara curta
Vou ficar no barraco
O que não falta é tatu
Prá me levar pr'o buraco...
Eu não quero sair!
Eu não quero sair!
Eu não!
Hoje eu vou ficar quieto
Não adianta insistir
Eu não vou pr'o boteco...
Eu não quero sair!
Eu não!
Hoje eu não teco, não fumo
Não jogo sinuca
Não pego no taco
Tem muita gente maluca
Me apurrinhandoEnchendo o meu saco
Hoje estou de vara curta
Vou ficar no barraco
O que não falta é tatu
Prá me levar pr'o buraco...
Conversa fiada, amador Carambola
Espeto é de pau
Em casa de ferreiro
Papagaio que acompanha
João-de-Barro se enrola
Vira ajudante de pedreiro
Eu não quero sair!
Eu não quero sair!
Hoje eu vou ficar quieto
Não adianta insistir
Eu não vou pr'o boteco
Eu não quero sair!...
Hoje eu vou ficar quieto!
Eu não quero sair!
Eu não!
É meu cumpadre vou ficar na minha
No sapatinho
Eu e minha nega, embaixo da cama
só assistindo tv à cabo!
Eu não quero sair!
Eu não!
Hoje eu vou ficar quieto...
Não sou mais morcego
Hoje eu sou passarinho
Farinha pouca
Meu pirão sozinho...
Pequinês que quer
Brincar com pitbull
Pirou de vez
Vira pic-nic de urubu...
Moro lá no Flamengo
Com prédio de fundo
De frente para o morro azul
Vira pic-nic de urubu
Vou pedir prá dona Sula
E um prato de angú
Vira pic-nic de urubu...
Venho lá do gogó da Ema
E não tem problema
Pois não dou mole
Prá ninguém da zona sul
Vira pic-nic de urubu
Eu falei prá vocês!
Vira pic-nic de urubu
Vira pic-nic de urubu...


Pode encher a piscina mas não esvazia a minha bacia!

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

E não teremos mais longas madrugadas a fora

E não iremos repartir mais miojos

E não escutaremos mais os nossos discos e cds já gastos

E não iremos mais mencionar essa distância

E não sentiremos mais essa dor que vem à dentro

E não nos reconheceremos nunca mais

E não se aqueceremos para equentar o frio que vem de lá de cima

Lá em cima, longa lombada

grande descida

Não subiremos mais aflitas

Nem andaremos lado a lado

Nem durmiremos mais

Nem conversaremos mais

Nem olharemos mais

Nem discutiremos mais

Nem nada

Agora apenas o vazio do que lá ficou

Do antes disso

Do depois disso

Não sei quem sou.

domingo, 2 de dezembro de 2007

Nunca viram ninguém triste
Por que não me deixam em paz
E não tem nada de mais
Me deixem bicho acuado
Por um inimigo imaginário
Correndo atrás dos carros
Como um cachorro otário
Me deixem ataque equivocado
Por um falso alarme
Quebrando objetos inúteis
Como quem leva uma topada.
Me deixem amolar e esmurrar A faca cega, cega da paixão
E dar tiros a esmo e ferir o mesmo cego coração.
Não escondam suas crianças
Nem me chamem o síndico
Nem me chamem a polícia
Nem me chamem o hospício, não
Eu não posso causar mal nenhum
A não ser a mim mesmo
A não ser a mim mesmo
A não ser a mim mal ma ma ma ma mal mal nenhum a não ser a mim mesmo
A não ser a mim.

sábado, 1 de dezembro de 2007

"Quando crescer, se ainda houver rancor no seu coração eu estarei te esperando."
A garaganta - órgão frágil e vermelho -
arde lentamente, a ponto de fazer da dor
um leito no qual meus sonhos são mais dolorosos que a garaganta
e ardidos quanto o inferno.
Não sou bom poeta, não sou nem mesmo um poeta miserável.
Nada sei daquilo que digo saber.
Não fui abeçoada pelo oráculo de Delfos.
Amo tanto quanto todos não me amaram.
E nem Delfos olhou para mim com os olhos do futuro
e nem eu quis que ele visse em mim o futuro nos olhos.
Não sou bom poeta. Não sou nada além de vários copos de bebida e uma tormenta de sedução.
Não sou bom poeta.
Temo não ser bom sedutor.
Tenho tantas promessas na cabeça,
que ela às vezes é como um altar
com outras tantas cabeças de cera sobre ele.
Um altar de redimidos e redenções.Sou um mau poeta.
Que pena ter em mim aquele fogo típico dos jovens e aquela tristeza tão típica dos mesmos.
Não quero ser poeta.
Quero descançar burra e burra permanecer na cama
até que a vontade de beber me tire dela,
até que o cansaço de
descansar me jogue dali
em movimentos rápidos e me vista
na minha roupa sempre tão linda
e me coloque um baton. Tudo tão lindo.
A rua vai me levar. Rua sempre leva a algum lugar.
Não existe calçada que não termine em esquina
e esquina que não inicie outra.
Depois de dobrar tantas esquinas e conhecer todas as ruas, medi a vida
e ela andou muito menos do que imaginei
na juventude de achar-me bom poeta.
Fiquei humilde não por caráter, nem por vontade. Fiquei humilde por transtorno.
Medi minha vida em goles de cerveja
e a dureza dos meus músculos na ruindeza de meu sangue - essa raiva Irlandesa que trinca os dentes nunca me deu ressaca.
"Depressa, por favor, é tarde!"
E nem as campainhas tocam
e nem os convites são colocados por baixo da porta!
Será Lázaros que me levará até lá
e será Carontes que me guiará no mar verde dos meus olhos.
Não terei Delfos a cegar defronte a mim,não terei nada que seja a morte.
Só você, com seu xale de frases tão bem-feitas pode me salvar. Com seus versos de beleza reescrita.
Reescreva-me poeta! Não deixe que eu me vá
nas águas verdes dos meus olhos cor de mar...
E ao perceber que nem abril era, nem agosto,voltou o rosto para o lado e adormeceu novamente. (Um pedido a Eliot)
Fernanda Young.