sábado, 1 de dezembro de 2007

A garaganta - órgão frágil e vermelho -
arde lentamente, a ponto de fazer da dor
um leito no qual meus sonhos são mais dolorosos que a garaganta
e ardidos quanto o inferno.
Não sou bom poeta, não sou nem mesmo um poeta miserável.
Nada sei daquilo que digo saber.
Não fui abeçoada pelo oráculo de Delfos.
Amo tanto quanto todos não me amaram.
E nem Delfos olhou para mim com os olhos do futuro
e nem eu quis que ele visse em mim o futuro nos olhos.
Não sou bom poeta. Não sou nada além de vários copos de bebida e uma tormenta de sedução.
Não sou bom poeta.
Temo não ser bom sedutor.
Tenho tantas promessas na cabeça,
que ela às vezes é como um altar
com outras tantas cabeças de cera sobre ele.
Um altar de redimidos e redenções.Sou um mau poeta.
Que pena ter em mim aquele fogo típico dos jovens e aquela tristeza tão típica dos mesmos.
Não quero ser poeta.
Quero descançar burra e burra permanecer na cama
até que a vontade de beber me tire dela,
até que o cansaço de
descansar me jogue dali
em movimentos rápidos e me vista
na minha roupa sempre tão linda
e me coloque um baton. Tudo tão lindo.
A rua vai me levar. Rua sempre leva a algum lugar.
Não existe calçada que não termine em esquina
e esquina que não inicie outra.
Depois de dobrar tantas esquinas e conhecer todas as ruas, medi a vida
e ela andou muito menos do que imaginei
na juventude de achar-me bom poeta.
Fiquei humilde não por caráter, nem por vontade. Fiquei humilde por transtorno.
Medi minha vida em goles de cerveja
e a dureza dos meus músculos na ruindeza de meu sangue - essa raiva Irlandesa que trinca os dentes nunca me deu ressaca.
"Depressa, por favor, é tarde!"
E nem as campainhas tocam
e nem os convites são colocados por baixo da porta!
Será Lázaros que me levará até lá
e será Carontes que me guiará no mar verde dos meus olhos.
Não terei Delfos a cegar defronte a mim,não terei nada que seja a morte.
Só você, com seu xale de frases tão bem-feitas pode me salvar. Com seus versos de beleza reescrita.
Reescreva-me poeta! Não deixe que eu me vá
nas águas verdes dos meus olhos cor de mar...
E ao perceber que nem abril era, nem agosto,voltou o rosto para o lado e adormeceu novamente. (Um pedido a Eliot)
Fernanda Young.

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