quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Temos construídos catedrais, e ficado de lado de fora pois as catedrais que nós mesmos construímos, tememos que sejam armadilhas. Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos. Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo. Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda. Temos procurado nos salvar mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes. Não temos usado a palavra amor para não termos de reconher sua contextura de ódio, de amor, de ciúme, e de tantos outros contraditórios. Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar a nossa vida possível. Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é angustia disfarçada. Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que relamente importa. Falar no que realmente importa é considerado uam gafe. Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses. Não temos sido puros e ingênuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer "pelo menos não fui tolo" e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz. Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos. Temos chamado de fraqueza a nossa candura. Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo. E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia.